Entrevista de INRI CRISTO ao Mundo Símio – Partes 5 e 6

01.07.04

ENTREVISTA COM INRI CRISTO – PARTE 5

O Mestre é um puta gente fina

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EXCLUSIVO: INRI REVELA COMO AGE O CAPETA, RELEMBRA OS TEMPOS EM QUE VIVEU NO COPACABANA PALACE, E AINDA POR CIMA EXPLICA COMO SE TOMA BANHO NUMA KOMBI

Poucas coisas são mais interessantes que o capeta, convenhamos. Foi por isso que, mal escondendo nossa profunda curiosidade, perguntamos ao INRI se ele tinha mesmo sido tentado pelo Tinhoso, pelo Coisa-Ruim, pelo Caramunhão – pelo Cão em pessoa, enfim.

Para nossa profunda surpresa, no entanto, o Mestre esclareceu, com a voz meio rouca pela gripe (e não por mandinga do Canhoto, espero) que o demônio “não é um macaco com rabo e chifre como dizem”.

Mal pude acreditar: o Demo não é um macaco com rabo e chifre!

Entretanto, mesmo não sendo símio, o Lúcifer é malandro: ele não se apresenta, ele sutilmente fala no “sistema neuronial” das pessoas. Êta Tinhoso tinhoso. É por isso que nunca o vi, apesar de suspeitar já tê-lo ouvido muitas vezes, principalmente quando estou do lado de uma mulher bonita. “Agarra-ela, agarra-ela” – só pode ser o Belzebu falando no meu sistema neuronial, no intuito de ver-me currado numa delegacia de polícia.

O Mestre revela ainda que já foi bacana. Morou até no Copacabana Palace. Mas triste mesmo foi ter que morar depois numa Kombi, e andar com a sandália toda estropiada. Graças ao Pai, hoje o INRI pode repousar em sua casa de campo de Paranaguá.

Mas àqueles que forem ter com o Mestre, uma advertência preciosa: antes leiam o livro do homem, chamado “Despertador”. Caso contrário, levarão uma dura como a que levamos – com toda razão, aliás. Se tem uma coisa que emputece o INRI é o interlocutor ser pouco erudito, especialmente se não tiver lido suas obras clássicas, como o dito livro com nome de rádio-relógio.

MS: São muito interessantes essas revelações que o senhor nos fez da época em que, pela primeira vez, o senhor veio à Terra. Mas há um outro episódio muito interessante, sobre o qual achamos que valeria a pena o senhor falar alguma coisa, que é aquele episódio da tentação no deserto, pelo demônio. O senhor foi tentado pelo demônio mesmo?

INRI: Como é que o demônio me tentou no deserto. Eu estava lá jejuando e o demônio… veja bem: antes de João Batista me batizar, eu estava enlameado dos pecados do mundo. É por isso que eu exigi (o batismo). Eu experimentei os pecados do mundo como qualquer ser humano, para conhecer os pecados do mundo. É por isso que na Bíblia não aparece onde eu estive dos três aos trinta anos. E quando eu fui batizado por João Batista eu exigi que eu fosse batizado porque eu sabia que o batismo significava um corte com o passado. E só depois pousou sobre mim o espírito santo, porque antes não podia porque eu estava sujo dos pecados do mundo.

Daí eu fui jejuar. Então o demônio, que não é um macaco com rabo e chifre como dizem – reparem que a minha voz está meio esquisita por causa da gripe… – não é um macaco com rabo e chifre como dizem, e sim uma entidade espiritual, um ser espiritual, um corpo sutil. E ele veio falar assim, por exemplo… uma das passagens é: “se tu és o Filho de Deus, transforma esta pedra em pão”. Eu disse “nem só de pão vive o homem”. Ele disse: “se tu és o Filho de Deus, atira-te daí para baixo, que está escrito que o Filho de Deus os anjos protegerão”. Está escrito: “não tentarás o teu Senhor”. Ele disse: “se tu és o Filho de Deus, ajoelha-te diante de mim” – e mostrou-me a cidade de Jerusalém, e todas as coisas do mundo, de luxo e de conforto… “Se tu és o filho de Deus, ajoelha-te diante de mim que eu te dou todos os reinos da Terra”. Eu disse: “só ao Senhor devo adorar”.

Então acontece que não era um macaco que veio. Ele veio no meu sistema neuronial falar essas coisas. E eu, vencendo as tentações, cheguei a um ponto que ele já não falou mais. Porque o demônio é um ser inteligente, e quando ele vê que não adianta, ele desiste. Mas ele persevera, e persevera muito. E neste século a mesma coisa, quando eu jejuei. Se eu não tivesse vindo ao mundo sem livre-arbítrio, as dificuldades são tantas para se conseguir sustentar uma túnica, para se caminhar de um país ao outro, como eu caminhei vinte e sete países sozinho… Inúmeras dificuldades são, que eu não teria resistido se eu tivesse livre-arbítrio.

Mas em substituição ao livre-arbítrio o Pai se manifestava e dizia “Eu sou contigo, vai adiante”. Então é melhor ter Ele que o livre-arbítrio. Eu tive momentos terríveis. Quando eu fui expulso da Venezuela, eu fui desembarcar no Rio de Janeiro, num lugar onde outrora eu vivi, no hotel Copacabana Palace, na suíte 951…

MS: O senhor já viveu no Copacabana Palace?!?

INRI: É, eu vivi na suíte 951 do Copacabana Palace, no tempo em que a dona era a Mariazinha Guinle. Eu tomava banho na piscina e tudo… Então eu desembarco no Rio de Janeiro vindo da Venezuela pela aviação Avianca, de túnica, de sandália, sem dinheiro, e tendo que falar ao povo na cidade, em Copacabana, onde outrora… Quem me albergou foi a Polícia Federal…

MS: (risos)

INRI: …porque eu vim como expulso. Então só mesmo a presença de Deus, o meu Pai, que me confortava e dizia “Eu sou contigo, tens que passar por isso, vai adiante”. E eu fui adiante. Eu remendava a minha sandália… Eu nunca me esqueço um dia em que eu estava caminhando pela Avenida Copacabana, conhecida como Avenida Nossa Senhora de Copacabana, entre aspas. E era um sábado de tarde, eu estava albergado lá no Leblon, na casa de um advogado, e eu estava caminhando, porque eu não tinha o dinheiro para ir de bonde até lá no Leblon, e arrebentou a minha sandália. Aí o demônio, inevitavelmente, me disse: “se tu fosse o Filho de Deus… todo mundo está aí passeando de carro com a família, e tu estás aí mal calçado, com a sandália arrebentada, não tem ninguém sequer para consertar a tua sandália…”. Então nessa hora, se não fosse o Senhor, eu me esborrachava lá mesmo, entende?

E outra vez que eu estava dormindo na casa de uma mulher, um apartamento meio humilde em Copacabana, e ela teve que ceder o apartamento para uma prostituta que veio dos Estados Unidos, porque a prostituta tinha prometido para ela que iria levá-la para os Estados Unidos, e que iria mudar a vida dela… Só que ela não sabia que era uma prostituta essa que veio lá, entendeu? Ela trabalhava, naquele tempo, vinte anos atrás, num negócio de informática no Rio de Janeiro, negócio de processamento de dados. E daí ela pegou e, por causa da promessa da outra ela teve que dizer “sinto muito, você vai ter que sair daqui, eu não vou mais poder te albergar aqui no quitinete”. Aí eu estava olhando lá, na praça, olhando para o prédio, até achar alguém que me albergasse. Isso lá em Copacabana.

Só para você entender, quando alguém diz “ah, esse louco, esse farsante…”, ah, e isso tudo o meu Pai dizia: “tu tens que passar por isso tudo até fundar a igreja. Aí depois que fundar a igreja, aí tu vai morar um bom tempo numa Kombi”. Eu morei numa Kombi, e aí eu tomava banho em Copacabana dentro de uma Kombi. Mas já era muito melhor do que antes. Eu fechava as cortinas, e ia no posto de gasolina buscar uma água, porque não tinha ninguém no Rio de Janeiro que me desse um lugar para tomar banho, entende, onde outrora eu morei num hotel de luxo. Então, se não fosse a ordem de Deus… Mas Ele é tão bondoso e tão perfeito que ao mesmo tempo que ele, graças a Deus, me mandou ao mundo sem livre-arbítrio, quando eu precisaria do livre-arbítrio Ele se manifesta. Eu não sei explicar por que nos momentos mais terríveis que eu vivi aqui na Terra, foram os momentos em que eu estive mais íntimo com Ele. Eu não sei explicar por que que isso é assim. Nos momentos mais terríveis – sabe aquele momento em que a pessoa quer explodir – era a hora em que ele se manifestava mais veementemente, e dizia “olha, Eu sou contigo, vai adiante, confia, que lá adiante tu vais colher o que estás plantando agora”. É muito difícil explicar o porquê, mas é assim. E às vezes eu olho para trás e eu digo “não é possível que hoje eu tenho a igreja”. Bem ou mal, isso aqui não é um Palácio, é a casa do Senhor, e eu moro numa montanha lá em Paranaguá também, né, Ele me deu um lugar para morar perto da natureza… Mas às vezes eu penso: “qual é o melhor momento, é agora ou antes” -, porque agora Ele me instrui, Ele me fala, mas eu não peço para voltar a viver no isolamento em que eu vivi, nas condições em que eu vivi… mas a presença confortante Dele… eu estava vivendo na floresta, em “Aramboiê”, na França… Ah, isso eu não vou contar, se quiserem que leiam o livro (o Mestre fica muito irritado)! Sim, porque ou vocês têm algum interesse e haverão de ler o livro “Despertador” e conhecer a minha história, porque o que está lá eu não vou mais falar…

A entrevista continua…

05.07.04

PARÁBOLAS – UMA PEQUENA PAUSA PARA ESCLARECER O POVO INCULTO.

Descobri que o Mestre INRI sempre tem razão.

Tive um pequeno vislumbre dessa luz ao ver que, respondendo à percuciente, complexa e instigante indagação formulada por Dom Gustavo, qual seja, a de como seria a aparência do Capeta, o Mestre, com sagacidade, observou que Asmodeu não se tratava de um “macaco com chifres”.

Eis aí um fato de que sempre desconfiei. Macaco com chifres, como muita gente já deve saber, sou eu quando me é dada a raríssima graça de namorar alguma boa moça de família. E, embora não me considere propriamente um santo homem, tendo a acreditar que, de fato, não sou o Capeta.

Convencido da santa sabedoria do santo homem (ou, melhor dizendo, do Filho do Homem lá de cima), debrucei-me sobre uma das obras do Mestre, o famoso “O Despertador”, a fim de estudar com profundidade seus ensinamentos. E outra vez fui obrigado a concordar com o INRI: deveras, somente um ignóbil teria a petulância de entrevistar o Mestre sem o devido conhecimento de sua obra literária.

A santa bronca que tomamos do santo homem ao perceber que não tínhamos nos instruído o suficiente antes de ir ter com ele é mais do que justificada. Mais um pecado que vou ter de explicar ao Pai do INRI. Conforme vou me instruindo nas verdades do espírito, vejo que, no meu caso, só uma eternidade no inferno vai ser pouco.

Sendo eu um caso mais do que perdido, num ato de desprendimento e bondade, compartilho com os poucos que se dignam a ler esta pequenina confissão as revelações místicas do Messias – também na esperança, é claro, de suavizar a minha conta negativa com o Homem lá de cima, o Pai do INRI.

Se o Capeta, como sempre desconfiei, não é um macaco chifrudo, qual seria a razão pela qual ele deve ser temido? O próprio INRI, ainda na resposta a Dom Gustavo, foi enfático: Belzebu age no “sistema neuronial”.

E daí me pergunto outra vez: se eu não sinto nenhuma força estranha a guiar meu sistema neuronial, como é que o Desgraçado me faz cometer tantos pecados, a ponto de já estar plenamente consciente de que, daqui pra frente, nem setenta anos de trabalhos forçados num asilo de morféticos tuberculosos vão me livrar do castigo eterno?

A resposta está na “Parábola da Escada de Sabão” (O Despertador, 4ª ed., 1.996, pág. 142).

Explica o Mestre que a tentativa de evolução do símio rumo ao reino dos céus é similar ao ato de subir, “degrau por degrau”, uma escada “propositalmente” feita de sabão – coisa que, convenhamos, não é das mais fáceis, além de propiciar tombos dignos de um pastelão. Que o INRI me desculpe, mas o Pai dele tem um senso humor, para dizer o menos, discutível.

Se subir numa escada de sabão já não é prática que a boa prudência recomenda, a situação fica ainda mais complicada quando o Capeta entra em cena. Sim, porque, afora a dificuldade natural desse estranho e radicalíssimo esporte, “o cruel e impiedoso demônio urina na escada”, “gargalhando” ao ver “a vítima despencar”. É muita maldade. Vai mijar assim lá no raio que o parta.

Constatada essa óbvia verdade, a coisa mais natural a fazer para se livrar das artimanhas do Canhoto, segundo ensina o Mestre, “é descobrir de que maneira ele consegue urinar na escada”. De fato, se estou a subir uma escada de sabão e vejo que um desgraçado está a mijar-lhe nos degraus, minha reação natural é, como diz o INRI, perguntar: “ele chega sorrateiramente pelas costas? De frente, quiçá hipnotizando a vítima incauta? Pelo lado direito ou esquerdo?”. Eis aí uma questão de suma importância.

O Filho do Homem, porém, avisa que tais perguntas são pura perda de tempo – e de alguns dentes também, conforme a gravidade do tombo. E adverte que, ainda que o povo passasse “noites, semanas, meses” tentando saber de onde vem o mijo do Capeta, tudo isso seria em vão. Porque, em bombástica revelação, o Mestre afirma que o Capeta, “incorporado em vós, utiliza o vosso aparelho de urinar para molhar a escada”. Filho da puta.

Agora, além de ver dominado meu sistema neuronial, descubro que também tenho dominado o meu sistema mijorial.

Ao final da “Parábola da Escada de Sabão”, o INRI explica que, na verdade, o ato de mijar significa as más obras que fazemos, resultado da dominação, pelo Capeta, do sistema neuronial. A solução para controlar o mijo? Vigiar, responde o Mestre, explicando que “só assim” se pode evitar que Satanás acabe “penetrando em vosso canal de pensamento, ministrando suas idéias negativas”. E daí eu me pergunto: como é que vou saber, antes de me esborrachar pelo chão, se os pensamentos que chegam ao meu sistema neuronial são produzidos pelo Capeta ou são produzidos por mim mesmo?

Admito, envergonhado, que acho que não entendi bem a “Parábola do Sabão”. Vou precisar revisitar essa obra.

O que foi mais fácil de entender – apesar de não menos surpreendente e gratificante – foi a revelação de que Simão Pedro também está entre nós.

Sim, aquele mesmo cabra que, quando a casa caiu pro INRI, arregou feio para os soldados romanos, dizendo algo do tipo: “Jesus? Nunca vi esse cara na minha vida, nem sei do que vocês estão falando. Agora, por gentileza, me dêem licença, que eu preciso trabalhar.”

Simão Pedro reencarnou na excelentíssima figura do “Dr. Edson Centarini, ex-delegado de polícia” e “ex-juiz de direito” (ob. cit., pág. 76). O Doutor Edson, ao que se vê, trocou a estabilidade do funcionalismo público nestas paragens pela estabilidade da eternidade lá do outro mundo, na condição de chegado do Filho do Homem. Muitas críticas podem ser feita ao velho Pedro, mas jamais a de que ele não tem vocação para arrumar bons empregos.

O que mais me chamou a atenção, contudo, foi a incontestável forma pela qual se deu a revelação da verdadeira identidade do Doutor Edson – ou Doutor Pedro, agora já não sei mais. Foi um “fato meio estranho”, como ele mesmo admitiu.

Numa a viagem a São Paulo em companhia do INRI e de mais um pessoal, o Doutor Pedro, no quarto do hotel em que se hospedou, tomou um belo banho, botou um “terno limpo e prateado” e foi dar uma palavra com o Mestre.

Na presença do INRI, percebeu que “havia uma mancha de sangue de uns três centímetros de diâmetro na região da virilha”. Assustado, o Doutor Pedro voltou ao banheiro e, mesmo vendo que a “cueca estava toda ensanguentada”, “Não havia em meu corpo, em parte alguma, nenhum ferimento!”.

Depois de tirar a “cueca suja”, Sua Excelência removeu o sangue das “coxas”. E o mais inacreditável de tudo: ao se vestir para ir ver novamente o Mestre, ele constatou que “minha cueca estava limpíssima na hora em que eu a vesti”!!!

Era o milagre da cueca, acrescento eu.

Depois do milagre da cueca, o próprio INRI disse ao Doutor Pedro que essa era a prova de que ele seria o Edson, ou melhor, disse ao Doutor Edson que ele seria o Pedro.

E, diante de tão insofismável “prova física”, como duvidar daquela realidade? Rendido a tão concretas evidências físicas, o próprio Doutor Pedro responde: “INRI Cristo me disse e eu acredito. Eu sou a reencarnação de Simão Pedro”. De fato, ninguém poderá provar o contrário, principalmente após o inarrável milagre da cueca.

Infelizmente, parece que nosso velho conhecido Simão Pedro não tem lembranças do seu passado bíblico. Só espero que ele não arranque a minha orelha com uma espada, como fez com um outro vagabundo naquela sua encarnação.

Esse livreto mostra a peleja do INRI em Roma. Depois de ter sido surpreendentemente mal recebido em Roma, o Mestre voltou pro Brasil para se armar com um poderoso porrete, que ele faz questão de brandir para atemorizar o Pap

A entrevista continua…

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