Escândalo no mundo espírita

Matéria sobre Divaldo Pereira Franco exibida em 29/02/2004 pelo programa Fantástico da Rede Globo  

Um escândalo que ficou em segredo por 40 anos mobiliza os seguidores do maior médium do Brasil. Chico Xavier deixou por escrito uma acusação contra aquele que hoje é um dos mais conhecidos nomes da comunidade espírita do Brasil.

Na velha máquina de escrever de onde saíram mais de 400 livros psicografados por Chico Xavier, também foram redigidas oito páginas de um documento considerado o mais polêmico do espiritismo no Brasil. A data: 10 de junho de 1962. Numa carta mandada a um amigo, Chico Xavier acusa de plágio o maior orador da doutrina espírita do país: Divaldo Pereira Franco.

Carta de Chico Xavier: “… Há muito tempo que diversas mensagens recebidas por mim vinham na imprensa espírita desfiguradas ou às vezes plenamente copiadas como tendo sido recebidas por ele”. O médium mais respeitado do Brasil finaliza assinando apenas: Chico. E à mão escreveu: “Peço reserva sobre esta carta, que deve ser lida somente para os que possam compreendê-la com espírito de compreensão fraternal”.

Quarenta e dois anos depois, uma cópia da carta foi deixada na portaria da Rede Integração, afiliada da Rede Globo em Uberlândia. Em Uberaba, descobrimos que a carta original, a pedido do médium, ficou com um amigo dele. Era no escritório que o advogado Jarbas Varanda, morto no ano passado, escondia o documento sigiloso.

Leonel Varanda: “Esta carta ficou em poder de meu pai, e por uma questão de lealdade ao Chico ele guardou esta carta durante todo esse tempo”.

A carta de Chico Xavier mobilizou seguidores da doutrina espírita da cidade de Garça (interior de S. Paulo). Um grupo de médiuns decidiu investigar o caso. Durante meses os voluntários compararam as mensagens psicografadas por Chico Xavier com as obras divulgadas por Divaldo Franco. E chegaram a uma conclusão:

Jorge Resine: “Tudo levava a crer que era plágio mesmo. Do ponto de vista literário é plágio inegavelmente”.

Jornalista e escritor, Jorge Resine é a única testemunha viva desta história. Mora em São Paulo, acompanhou a investigação dos colegas espíritas e pela primeira vez concordou em falar sobre o assunto: “O Chico sofreu muito com o caso. Ele é uma figura muito sensível, um espírito muito delicado e sensível. Sofreu bastante”.

O relatório confidencial mostra as semelhanças de palavras e frases em várias mensagens publicadas pelos dois médiuns. Num dos textos, por exemplo, Chico Xavier escreveu: “Ama, pois, e ama sempre, porque o amor é a essência da própria vida, mas não cogites de ser amado”. Na obra de Divaldo Franco: “Ama, portanto, embora não recebas a retribuição”.

Jorge Resine: “Pode se sair pela tangente: ‘…não, os espíritos sopram aonde querem…’ Não é bem assim.”

Em outra mensagem, Chico Xavier publicou: “A cada momento o Criador concede a todas as criaturas”. E Divaldo Franco: “A todo instante o celeste PAI favorece os homens”.

Outra frase psicografada por Chico: “Meu filho, dito essa carta para que você saiba que estou vivo”. E mais uma semelhança na obra de Divaldo Franco: “Meu filho, perdoa-me voltar à tua consciência. Continuo vivo”. Em algumas mensagens foram encontradas trinta e quatro palavras ou frases parecidas. Outros textos tinham títulos idênticos.

Divaldo em entrevista: “Ninguém sem exceção nunca me abordou o assunto, eu nunca tive a oportunidade de ser interrogado, de ser ouvido, de me pedirem explicação”. (…)

Essa semana Divaldo Franco falou sobre as denúncias. Ele nega a acusação de plágio e diz que o que houve foi coincidência.

Divaldo: “O espiritismo explica que uma mensagem tem valor quando ela é recebida por diversos médiuns, sem que eles tenham contacto uns com os outros. A isso se chama universalidade do ensinamento. E eu as psicografei sem nunca haver copiado ou me louvado em qualquer uma delas. Na época eu lia as mensagens do Chico, como todo Brasil espírita, e líamos com muito ardor, com muito interesse, como era natural porque ele era o nosso líder. E se houve realmente qualquer manifestação de identidade deve ter sido traição do inconsciente ou o fenômeno de corroboração”.

Procurado, o filho adotivo de Chico Xavier não quis comentar o caso. Disse que o que interessa agora é receber uma mensagem verdadeira do pai.

Divaldo Franco: “Sempre o chamava abençoado Francisco Cândido Xavier”.

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